17 de maio de 2024
EspecialÚltimas NotíciasVida Universitária

50 anos da morte de Alexandre Vannucchi Leme

Confira a exposição virtual “Alexandre Vannucchi Leme: eu só disse o meu nome” no Google Arts e Culture, em parceria com o Instituto Vladimir Herzog.

“Por que Alexandre Vannucchi Leme?” Foi com essa pergunta que a Uniso recebeu estudantes e convidados na última sexta-feira (31/3), para marcar os cinquenta anos da morte do estudante sorocabano. O professor Aldo Vannucchi falou aos convidados em memória do sobrinho, estudante de Geologia da USP, morto por militares no ano de 1973, na cidade de São Paulo. Organizado pelo Centro Acadêmico de Direito da Uniso (CAD), que leva o nome de Alexandre Vannucchi Leme, o evento aconteceu em 31 de março, dia em que, no ano de 1964, teve início o regime militar no Brasil.
Alexandre Vannucchi Leme nasceu em Sorocaba no ano de 1950. Em 1973, aos 22 anos, cursava o quarto ano de Geologia na USP e era membro da Aliança Nacional Libertadora. Ótimo aluno, foi o primeiro colocado no vestibular. Participava do movimento estudantil e era o representante dos estudantes na Congregação do Instituto de Geociências, com voz ativa nas lutas comuns da época. Alexandre tinha contato direto com a reitoria e, ao questionar os motivos da igreja católica não ir contra a ditadura, começou a sofrer perseguição pelo sistema.
Foi visto pela última vez na USP no dia 15 de março de 1973. Sua morte foi justificada inicialmente como acidente de trânsito pelas autoridades. Os órgãos de segurança divulgaram o óbito apenas no dia 25 de março daquele mesmo ano. Na luta por informações sobre os restos mortais de Alexandre, a família só teve acesso à sua ossada no ano de 1983. Já o atestado de óbito só foi retificado 40 anos após sua morte, sob o laudo de tortura.

Imagem extraída da reportagem da TV Tem, exibida em março (Foto: Kauã Rocha)
Prof. Aldo Vannucchi ao lado do aluno Guilherme Teles, presidente do Centro Acadêmico de Direito (Foto: Rafael Filho)

O evento
Aos 94 anos, o professor Aldo Vannucchi conduziu sua palestra, sob emoção, contando algumas memórias que recorda até hoje com o sobrinho. Com grande pesar, o professor manifestou com angústia e tristeza a perda do jovem, vítima de um ato de covardia e opressão sob aqueles que se opunham ao sistema político bárbaro, marcado por torturas e assassinatos.
Aldo Vannucchi destacou em suas falas como Alexandre lutou por aquilo que acreditava e por mudanças necessárias, reforçando que seu nome faz jus às homenagens concedidas a ele nas grandes instituições de ensino. Em detalhes, descreveu o último contato com seu sobrinho, quando Alexandre foi visitá-lo na cidade de Votorantim. Tiveram uma breve conversa e o jovem partiu. Ele não imaginava que aquela seria a última vez que o veria.

O auditório recebeu alunos e convidados que se mantiveram atentos às memórias e reflexões apresentadas. (Foto: Rafael Filho)

Postura estudantil
Em conversa com os jovens presentes no auditório, predominantemente estudantes da Uniso, o professor Aldo abordou alguns assuntos classificados como de grande relevância para quem está no meio acadêmico, como “a atual ditadura em que vivemos: A ditadura da indiferença”. Ele chegou a questionar a postura de uma parcela dos estudantes ao não terem preocupação com o cenário atual e, consequentemente, isso ocasionar uma ausência, ou seja, uma falta de presença, de participação e postura crítica por parte dos jovens diante dos problemas do país.
De maneira veemente, Aldo Vannucchi sentenciou que “a indiferença mata todos os ideais”, e que é preciso mudar essa postura, visto que a formação acadêmica se consolida com base em vivência e atitudes para o autodesenvolvimento e não apenas no conhecimento técnico, acentuou o professor.
Apesar do tom sério e reflexivo do evento, Aldo Vannucchi abordou com senso de humor sua participação na Ouvidoria da Uniso, onde analisa as críticas e sugestões dos estudantes e garante que todas as solicitações são devidamente encaminhadas para análise da Reitoria e possíveis providências. Ele destaca como a universidade tem grande papel para o desenvolvimento da sociedade e aconselha o público a procurar por todos os serviços prestados em benefício aos alunos, como o acesso ao acervo da biblioteca e o atendimento psicológico gratuito promovido pelos graduandos do curso de Psicologia.

Profa. Maria Aparecida Ferreira Tavares foi amiga de Alexandre Vannucchi na Escola Dr. Getúlio Vargas. (Foto: Rafael Filho).

Presença especial
Maria Aparecida Ferreira Tavares, amiga de Alexandre Vannucchi Leme no segundo grau na Escola Municipal Dr. Getúlio Vargas, assistiu à palestra da plateia, relembrando passagens importantes e a convivência com o colega. Aos 71 anos, a professora de Língua Portuguesa aposentada também foi supervisora de ensino da Secretaria de Educação do Estado e se emocionou ao contar detalhes da convivência com Alexandre.
Em suas recordações dos três anos que estudaram juntos, ficaram conversas que renderam boas risadas e momentos de grande aprendizado. Maria Aparecida destacou como o amigo era um aluno estudioso, tranquilo, sempre prestativo e eloquente. Ela lamenta como as coisas aconteceram e fala como é importante o conhecimento sobre a realidade e como devemos nos preocupar com os problemas do nosso país. Em sua primeira visita à Cidade Universitária, comentou estar deslumbrada com a estrutura do local e prometeu voltar para conhecer o acervo de livros da biblioteca.

Texto: Kauã Rocha / Fotos: Rafael Filho (Agência Focs – Jornalismo Uniso)