2 de setembro de 2025
Notícia 1

Uniso recebe réplica de crânio de dinossauro para exposição e palestra sobre paleontologia

Quem passar pela biblioteca Aluísio de Almeida, localizada na Cidade Universitária da Uniso, poderá visualizar até 10 de setembro uma réplica de um crânio de Espinossauro construída pelo paleontólogo e paleoartista Felipe Alves Elias. A atividade é promovida pelo curso de Ciências Biológicas da Uniso, em conjunto com o Grupo de Estudos de Ecologia (GEECO). O recebimento da réplica na Universidade serve como uma introdução ao universo da paleontologia, tema de uma palestra programada para o último dia da exposição. A Uniso é a segunda parada da exposição itinerante que deve percorrer todo o estado de São Paulo e, futuramente outras regiões do país.

Descoberto no Egito em 1912, em rochas que datam mais de 100 milhões de anos, o Espinossauro é considerado um dos maiores dinossauros carnívoros já encontrados, com até 15 metros de comprimento. Fósseis semelhantes foram encontrados no estado do Maranhão, no início dos anos 2000 (Crédito: Rafael Filho)

“Vimos que, além de ser um tema super relevante e interessante para entendermos um pouco como era o Brasil nesse momento distante da nossa história evolutiva, a atividade seria uma oportunidade para darmos protagonismo para o GEECO”, explica o professor Thiago Marques que coordena o curso de Ciências Biológicas da Uniso e o GEECO, um grupo de estudos criado em 2025 para a produção de conteúdos educativos em ecologia e biologia.

Professor Thiago Marques: “O intuito da exposição é que as pessoas passem por ali, se interessem, retomem esse tema no seu cotidiano e no dia 10, possam ouvir o especialista, a pessoa que montou a peça” (Crédito: Fernando Rezende)

Biólogo e mestre em paleontologia e museologia, Felipe Alves Elias lançou em julho de 2025 o livro Animais Pré-históricos do Brasil – O guia ilustrado. A publicação é resultado de uma pesquisa que Elias vem desenvolvendo desde 2005. O paleoartista sempre teve interesse pela divulgação científica e visualizava uma lacuna na paleontologia nacional.

O paleontólogo Felipe Alves Elias defende a importância didática da ilustração paleoartística pois, diferente da ilustração científica, que é descritiva, ela possui um viés mais interpretativo (Crédito: Rafael Filho)

Elias defende que é preciso compreender o distanciamento entre o real e o fantasioso sobre o universo paleontológico, representado em produções cinematográficas internacionais. Sob uma perspectiva decolonial, defende a transposição desse debate para a realidade brasileira, a partir de estudos nacionais. “Existem muitos livros, filmes e documentários que retratam a paleontologia, mas em uma realidade que não é a brasileira. Minha ideia é dar ênfase para a nossa paleontologia”, detalha.

O Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Inovação, professor José Martins (à dir.) e o professor Guilherme Profeta (à esq.) estiveram presentes na recepção da réplica do crânio de Espinossauro (Crédito: Rafael Filho)

Elias conta que foram cinco anos somente levantando dados para o início de seu trabalho escrito. Membro da Divisão de Difusão Cultural do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) desde 2011, o paleontólogo comenta que mesmo utilizando somente os vertebrados como recorte, o levantamento dos dados foi difícil pois “muitos conteúdos eram restritos ao ambiente acadêmico e o grande público não tinha acesso aos periódicos da área”.

Elias acreditava que o processo todo durasse no máximo seis anos, mas a realidade foi bem diferente, pois o início dos anos 2000 era uma época em que não existiam tantas facilidades tecnológicas como vemos hoje.

“Alguns materiais eram do início do século 20. Não tive acesso a muitos fósseis, pois estavam espalhados pelo mundo todo. Nem tudo era digitalizado como é hoje. Eu recebia xerox de materiais pelo correio, e muitas vezes a qualidade não era boa. Às vezes, era preciso fazer revisões durante o processo, pois eram publicadas pesquisas que mudavam a forma de interpretação de um fóssil”, relata.

O projeto Uniso Ciência e a “diplomacia científica”

Ponte para o início da relação de Elias com a Uniso, as edições 6 e 7 da revista semestral bilíngue Uniso Ciência podem ser acessadas gratuitamente em: https://uniso.br/projeto-uniso-ciencia/  (Crédito: Rafael Filho)

“O Felipe foi fonte para duas reportagens especiais em nosso projeto Uniso Ciência, em dezembro de 2020 e junho de 2021, ambas ricamente ilustradas com espécies que podem ser encontradas, também, neste guia que está sendo lançando”, afirma o professor Guilherme Profeta, um dos jornalistas que escreve para o Uniso Ciência, projeto institucional de divulgação científica.

Segundo Profeta, o conteúdo é produzido, atualmente, por professores dos programas de pós-graduação em Educação (PPGE) e em Comunicação e Cultura (PPGCC) da Uniso. “Esta atividade que o Felipe desenvolverá na Universidade em 10 de setembro, junto ao curso de Ciências Biológicas, é uma continuidade dessas reportagens de 2020 e 2021”, pontua.

Profeta frisa que o Uniso Ciência, além de ser um projeto de divulgação científica, possui o papel de promover a “diplomacia científica”, ou seja, ser uma ferramenta para o fomento de encontros entre pares que não se conhecem, que estão distantes ou que nunca pensaram em realizar produções em conjunto.

“A ideia não é apenas reagirmos a pautas que surgem na universidade e em seus entornos, mas criarmos as condições propícias para que essas parcerias surjam intermediadas pelas reportagens. É criar as próprias pautas e engendrar novas colaborações. Trata-se de entender que somos um projeto já maduro, depois de oito anos, e assumir uma postura mais ativa. É isso que estamos chamado de ‘diplomacia científica’”.

Elias com as edições seis e sete da revista Uniso Ciência. Para o paleontólogo, é preciso que se valorize o passado para se ter compreensão do presente e perspectivas de futuro (Crédito: Rafael Filho)

A paleontologia como conexão entre passado, presente e futuro

Elias comenta que a paleontologia é um tema chamativo, devido às produções de Hollywood e outras versões ficcionais, mas normalmente levam as pessoas a se interessarem pelo assunto “pelo viés do fantasioso, do fantástico e do incrível, se distanciando um pouco da realidade. Às vezes isso pode alterar um pouco a percepção que o público tem”.

Para contrapor essa visão, o paleoartista aponta que uma estratégia utilizada é correlacionar a paleontologia com a nossa realidade atual, fazendo uma conexão com o passado. “Muitas vezes olhamos para os fósseis com uma ideia do que nos distancia deles e não o que nos aproxima ou o que eles podem nos contar”, pontua.

Segundo Elias, os fósseis contam histórias que podem contextualizar a realidade atual, eles nos ajudam, por exemplo, a entender como o Brasil se tornou o país com a maior biodiversidade do mundo.

“Quase um quarto das espécies do planeta estão aqui. Para entender essa biodiversidade, é preciso entender como a história se passou ao longo do tempo. Isso é uma coisa que os fósseis nos ajudam. E não só para entender os bichos e as plantas, mas como a nossa paisagem mudou. O Brasil passou por mudanças importantes na geografia, há 300 milhões de anos uma parte importante da América do Sul era coberta por gelo. Depois que esse gelo derreteu, ele gerou áreas de um pequeno mar que existiu aqui e que deixou fósseis importantes”, explica.

Elias durante o processo de construção da réplica do crânio de Espinossauro. Para ele, “é preciso um olhar carinhoso para o passado. Fósseis contam histórias, nos ajudam a entender como chegamos aqui, e podem nos mostrar o futuro” (Crédito: Arquivo pessoal)

“Outro ponto que eu considero fundamental, que é uma questão de maior urgência, é que hoje vivemos um momento de crise de biodiversidade, as espécies estão desaparecendo em uma velocidade maior do que a gente consegue descrevê-las. Isso é resultado das nossas ações diretas e indiretas, quando mexemos nos nossos ambientes ou poluímos os oceanos, por exemplo”, pondera.

Reforçando a importância dos cuidados com a biodiversidade, Elias utiliza como exemplo os Espinossauros, um grupo de animais que viveu por 170 milhões de anos, para afirmar que “a nossa espécie, que está aqui há 200 mil anos, está mudando as condições ambientais num ritmo que nunca visto antes, nem no registro fóssil.”

Ainda em relação à valorização do passado, Elias aponta que, para além da curiosidade que move a imaginação, é preciso visualizar o passado como uma ferramenta que pode ajudar na compreensão do presente e “que pode dar um vislumbre do que podemos fazer para, se não resolver, talvez reduzir os problemas, como gerenciar essas mudanças para que possamos ter uma perspectiva de sobrevivência a longo prazo”.

O livro Animais Pré-históricos do Brasil – O guia ilustrado, será um dos temas da palestra “Brasil Pré-histórico: Memórias escondidas nas rochas”, que será apresentada pelo autor, no dia 10 de setembro, às 19 h, no auditório da biblioteca Aluísio de Almeida localizada na Cidade Universitária da Uniso (Crédito: Rafael Filho)

Texto: Rafael Filho