23 de novembro de 2024
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Moda promove desfile com mais de 60 looks

Quem vê somente o glamour das passarelas não imagina o trabalho por trás dos bastidores! O desfile de encerramento do semestre, que reuniu no dia 1º de dezembro o resultado de 12 Trabalhos de Conclusão de Curso em Moda da Uniso, foi marcado por estudantes correndo de um lado ao outro enquanto ajudavam seus modelos a se vestir, por correções de postura antes de adentrar a passarela ou por ajustes finos de última hora realizados com o auxílio de um celular (ou até mesmo do reflexo numa janela!), tudo para oferecer uma apresentação de qualidade ao público, que aguardava no Espaço de Convivência da Biblioteca Aluísio de Almeida, na Cidade Universitária.

A professora Laura Mello de Mattos Anacleto, Coordenadora do curso de Moda da Uniso — o qual, segundo ela, é o único da região a desenvolver pesquisas complexas, além da prática —, conta que o evento foi um brinde ao percurso formativo de cada estudante, tanto no que diz respeito à teoria (a pesquisa fundamentada em investigação), quanto à prática (aquilo que sai do papel para se transmutar em coleções).

Cada uma das 12 pesquisas, desenvolvidas no primeiro semestre, gerou cinco looks completos, operacionalizados ao longo do segundo semestre, alguns dos quais serão destacados nesta reportagem.

Moda praia para mulheres mastectomizadas

“Já faz alguns anos que a Uniso tem abarcado o tema da moda inclusiva. São públicos que normalmente estão excluídos do campo da Moda, para os quais a indústria olha muito pouco. Temos dedicado um olhar específico a eles”, conta a professora Aymê Okasaki, destacando que, no caso da coleção de moda praia para mulheres mastectomizadas (que passaram por cirurgia de remoção das mamas), as estudantes responsáveis chegaram à etapa prática do trabalho já com uma pesquisa bem madura, após entrevistas com as futuras modelos e contato com a Liga Sorocabana do Câncer, uma ONG da cidade.

Modelo Sarah Peres Marum, desfilando a moda praia para mulheres mastectomizadas

Segundo a estudante Beatriz Tomoto, a ideia surgiu devido à coincidência de tanto ela quanto a sua parceira no trabalho, Aline Peres, terem vivenciado casos de câncer de mama em suas famílias. “Nossas avós tiveram câncer, e a Aline teve mais uma parente também, então sabemos como é difícil”, ela explica. “A gente viu quais eram as dificuldades de vestuário para elas e percebemos que o que elas encontram por aí são coisas muito simples.”

“As alunas demonstraram algumas características bem interessantes na coleção, como a inclusão de babados e estampas, tudo trabalhado com equilíbrio para deixar essas mulheres seguras e confortáveis”, destaca Okasaki. As peças tiveram, também, ajustes específicos, como o uso do bojo, considerando-se que algumas das modelos utilizavam próteses de silicone.

A pintora Frida Kahlo, ícone do movimento feminista, também foi inspiração para a coleção. “A gente quis trazer tudo isso para a nossa coleção, desenvolvendo uma coisa que unisse esses conceitos e mostrasse a força da mulher, a sua vontade de lutar e de vencer os desafios”, enfatiza Peres.

O resultado pode ser percebido pelo depoimento da modelo Edna Maria da Rocha, que é paciente oncológica e tinha dificuldades de encontrar roupas específicas para mulheres mastectomizadas: “Foi maravilhoso. É uma experiência diferente para a gente, que faz tratamento oncológico. Eu, por exemplo, tive dificuldades na primeira vez em que fui à praia, por isso, quando elas falaram que era essa a ideia da coleção, eu fiquei muito feliz por elas terem nos escolhido.”

Feminismo na Segunda Guerra Mundial

A estudante Daline de Souza Leão explica que a ideia do seu trabalho foi mostrar a força da mulher ao longo desse período histórico, em que as mulheres tiveram de assumir lugares antes ocupados pelos homens, já que eles estavam na guerra. O nome de sua coleção, “Potência”, e o logo da marca, uma mulher com o braço levantado (fazendo alusão ao famoso cartaz de propaganda de J. Howard Miller, em 1943, onde se lê a mensagem “We can do it”), foram inspirados por essa época.

Peças criadas para a coleção “Potência”, na passarela

Coleção inspirada em Anita Malfatti

Modelos e autoras da coleção que teve como referência a artista plástica do Modernismo brasileiro

Cristiana Fogaça relembra que sua ideia sempre foi utilizar sua coleção para homenagear o trabalho de uma mulher. Ela e sua colega de trabalho, Izabela Sander, realizaram diversos processos de brainstorming e pesquisas sobre estilos de arte até chegar a Anita Malfatti, artista modernista dos anos de 1920.

“Calhou por ser um tema nacional, então a gente adorou. Quisemos mesclar a arte dela com a nossa moda”, explica Fogaça. Ela complementa dizendo que os quadros de Anita Malfatti serviram de referência para a estampa exclusiva da coleção.

Roupas baseadas no Egito antigo

“A gente aprendeu no segundo semestre sobre História da Moda e, desde então, fiquei muito apaixonada pelos mistérios do Egito Antigo”, diz Larissa Beatriz Branco, umas das estudantes que optou por um trabalho solo. Ela conta que escolheu um período específico, o Novo Império, e que desenvolveu um look baseado em cada faraó.

Moda e História: a vida dos faraós também inspirou looks

Foco na pesquisa

No processo de pesquisa para o desenvolvimento das coleções, cada equipe é alocada a um professor diferente, dependendo dos interesses correspondentes: “Nós vamos de acordo com a linha de pesquisa de cada professor-mentor: se os estudantes estão interessados em pesquisar sobre arte, por exemplo, eles me procuram; para trajes de inspiração africana ou que envolvam a reutilização de materiais, temos a professora Aymê; para história da moda e do vestuário, ou trajes modulares, temos os professores Flávio e Neto, e assim por diante”, conta a coordenadora Laura Mattos.

Os resultados não param nas passarelas; uma das pesquisas que gerou looks apresentados no desfile de 2021, por exemplo, já foi tema de um colóquio nacional de Moda, um esforço de integração entre a prática e a pesquisa acadêmica que é tendência no curso, como destaca a coordenadora.

Texto e fotos: Rafael Filho (Agência FOCS / Jornalismo Uniso)